Proteção e crescimento – um equilíbrio possível

Proteção e crescimento – um equilíbrio possível

Proteção e crescimento – um equilíbrio possível
Iniciamos a semana da criança com um misto de dor e medo. Bullying, “baleia azul”, pedofilia, sequestros, terremotos derrubando escolas, a tragédia de Janaúba… muitas dores relacionadas à infância e à adolescência se tornaram mais visíveis nos últimos tempos. A impressão que fica é a de que nunca antes a infância esteve tão vulnerável. Por outro lado, nunca antes tivemos tanta condição de proteger nossos filhos, tendo acesso a cada passo deles. Desde a clássica “babá eletrônica”, chamadas com vídeo, whatsapp e até aplicativos com rastreador permitem agora monitorar cada instante em tempo real, ajudando a descobrir inclusive mais do que gostaríamos.
Com isso, criamos a ilusão – e a obrigação – de poder proteger nossas crianças de todos os perigos. Essa premissa encerra em si dois perigos adicionais: o de perceber como culpa dos pais qualquer coisa que escape a esse controle, e o de esperar que, ao atingir a maioridade, nossos filhos descubram magicamente como lidar com todas as questões que foram evitadas na infância. Nos esquecemos de que o crescimento é um fortalecimento continuo, passo a passo, não um salto repentino entre as diferentes etapas.
Proteger envolve não só evitar riscos e ameaças, mas também ajudar a criança a desenvolver critérios próprios para lidar com eles. Quanto mais nova a criança, maior a necessidade de proteção concreta – inclusive física. À medida em que começa a caminhar e explorar o mundo de forma mais ativa, precisa aprender até onde pode ir, de que coisas não se aproximar, a que velocidade e ritmo andar sem cair e se machucar. Estes aprendizados só serão possíveis se a criança sair da segurança do colo dos pais, mas contando com o suporte deles.
A melhor forma de proteger nossas crianças é dar ferramentas para que elas possam desenvolver autonomia e independência de maneira saudável. Algumas das principais ferramentas são: • Confiança – aprender a confiar em suas próprias avaliações e habilidades, e poder ter a confiança de que sera escutada e respeitada pela família. É fundamental que a criança possa ter a certeza de que seu receios e suspeitas não serão julgados nem desqualificados pelos adultos, para que ela se sinta à vontade para expor situações delicadas que possa estar vivenciando • Gestão de risco – aprender quais são os riscos aceitáveis e quais os desnecessários, até que ponto devemos chegar e qual vai ser a nossa via de escape em caso de perigo • Orientação para a solução – ser capaz de criar um “plano B” para quando as coisas não saírem como planejado • Plano de contingência familiar – estabelecer pontos de apoio e soluções conjuntas em caso de emergência, tais como: combinar pontos de encontro em lugares muito cheios, estabelecimento de senhas ou códigos conhecidos somente por pessoas de confiança, estabelecer quem será acionado em caso de urgência
Por último, é importante que a criança possa descobrir, ainda que aos poucos, que os pais não são infalíveis nem podem oferecer proteção absoluta o tempo todo – mas que estarão por perto para enfrentar os momentos difíceis da melhor forma possível. Conhecer as histórias de superação da família fortalece não só os laços, mas também a noção de que até as situações terríveis passam, e podem se transformar em fonte de crescimento pessoal e familiar.

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Lilian Garate Castagnet
lilian@abrangente.psc.br

Psicoterapeuta bilíngue Espanhol-Português. Há 22 anos, atua nas áreas clinica e hospitalar, com experiência de intervenção em situações de crise, traumas e emergências. Terapeuta do programa “Sem Medo de Falar Novos Idiomas”.

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