O FRUTO 2.0 DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL

O FRUTO 2.0 DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL

TEXTO MARAVILHOSO do nosso querido aluno Rafael Sarto.

Vale a pena cada minuto desta leitura e… apaixone-se!

 

Obviamente que existem exemplos ainda mais antigos, mas, dada nossa cultura brasileira de maioria cristã, remeter-me-ei à Gênesis como o primeiro caso de contradição evidente entre o saber e o agir.

A maçã era ao mesmo tempo o fruto que permitiria abrir os olhos e saber tanto quanto Deus, e o fruto do pecado que daria início aos sofrimentos humanos, a começar com o autojulgamento (“perceberam-se nus”).

Na íntegra: “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal. Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deus a seu marido, e ele também comeu. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”

“Uma mente que se expande para o conhecimento nunca retorna ao seu tamanho original”.

“Ignorância é uma bênção”.

São frases que eu gosto e resumem bem essa introdução. Quero ensaiar sobre a díade Amor-Trabalho, que é a vertente de textos e discussões que se tornaram metas e tarefas para mim nesse momento.

Emancipação profissional: provavelmente é uma das imagens e dos perfis mais veiculados nas mídias que tratam do mundo do trabalho atualmente. Nesse mundo 2.0, a pessoa deve ser proativa, independente, competente, multidisciplinar, generalista e especialista ao mesmo tempo, altamente sociável, dentre vários outros requisitos. O mundo também está muito competitivo e mais igualitário, ainda que não possamos falar, obviamente, em igualdades perfeitas.

Os relacionamentos, por conseguinte, acabaram também por precisar se moldar a esse novo modelo: maior igualdade de poderes entre os sexos, uma busca por relacionamentos de menor dependência entre os seus pares e de maior parceria para a solução dos desafios diários (trabalho, finanças, família, social, etc.), dentre vários outros.

Ocorre que, para sermos bem sucedidos em qualquer coisa — daí em ambos — precisamos de prática e treinamento. Ninguém nasce sabendo trabalhar, mas ninguém nasce também sabendo se relacionar. Tudo isso demanda tempo e tempo é diferencial competitivo. Relacionamentos, então, ainda estamos com os pensamentos de nossos antepassados que pregavam que necessariamente eles demandavam tempo demais para serem estabelecidos e se solidificarem. Assim sendo, o tempo despendido com o “Amor” é excessivamente grande, tais quais os riscos (de sofrimento, de dor emocional, de saudade, etc.). E além disso tudo: seus resultados não são nada imediatos. Logo, melhor investir no trabalho.

Desse modelo simplificado de movimento individual que as pessoas, via de regra, motivam-se a tomar nesse novo modelo de sociedade, possuímos algumas grandes evidências: a maior procura de jovens por relacionamentos pautados exclusivamente em sexo, grande popularização dos aplicativos de encontros casuais, emancipação de vários novos modelos de relacionamentos abertos (modelo o qual, em si, eu não critico, mas, sim, a forma como o vejo implementado em alguns vários relacionamentos — mas isso é outra conversa), a inibição controlada de envolvimento emocional (o próprio medo emocional de envolvimento e todas as técnicas que as pessoas se utilizam para não se envolverem), e por aí vamos. Passamos a despender menos tempo com o amor. Objetivo atingido.

Até aqui, tudo parece fazer sentido. Mas eu sou a cobra (sexy, sensual e sedutora), e proponho-lhes morder essa maçã e continuar lendo para acessarem o conhecimento a respeito das contradições dessa história. Concomitantemente: olharem para si, nus, e autojulgarem o modo como se relacionam. De sobremesa: talvez um pouquinho de dor emocional. Nada muito engordante.

A pergunta: será que buscar envolvimento emocional é tão ruim profissionalmente? Principalmente quando desiludidos amorosamente, costumamos querer “um tempo para nós mesmos”, para aproveitar e tocar para frente nossos “projetos pessoais e profissionais”. Às vezes funciona. Cada um tem seu tempo. Mas por quê a opção de procurar logo um novo parceiro(a) para auxiliar nesses projetos é sempre posta de lado?

Neuroquimicamente, ao menos, como vimos em “O QUE É O AMOR (ÍNTIMO PELA PESSOA)?” (https://sartotxt.wordpress.com/2016/08/26/o-que-e-o-amor-intimo-pela-pessoa/), isso não faria o menor sentido.

A norepinefrina em alta nos recém-apaixonados é responsável pela euforia, grande nível de energia e menor necessidade de sono, tornando o indivíduo muito mais produtivo.

A dopamina produz a sensação de felicidade, a mesma correlacionada à motivação intrínseca nas pessoas (aquela paixão por uma atividade qualquer; o fazer pelo fazer; sem visar recompensas).

A dopamina também modula a liberação de serotonina, reduzindo-a. Ela que é a responsável por sensações como angústia, agressividade e medo. Apaixonados são mais confiantes, corajosos e esperançosos, bem como possuem mais recursos psicológicos para autorregular suas ações (dada a menor agressividade).

Outra consequência da redução de serotonina (e desses marcadores de ansiedade: angústia, medo e agressividade) é a redução do apetite: para você que tinha o projeto de fechar a boca e perder alguns quilos para esfregar na cara do ex ou da ex o que foi que ele/ela perdeu, ter um novo/a companheiro/a pode ser de grande ajuda.

Se você enveredar a dar um gás nas atividades físicas, ainda leva de quebra umas doses de “endorfinas”, responsáveis por acelerar recuperação do corpo, sono de melhor qualidade, resistência a estresse, metabolismo e relaxamento.

Por fim, a oxitocina, hormônio vinculado à formação de intimidade e estabilização do relacionamento duradouro e fiel, sinaliza aumento na recompensa cerebral por atividades como apoio social, sexo, contato íntimo e comunicação entre parceiros. Para além dos benefícios conhecidos do sexo, apoio social e comunicação estão diretamente vinculados à aprendizagem e ao desenvolvimento psicossocial.

E tudo isso pode (e acontece!) ocorrer a partir já do primeiro dia: com prevalência de alguns (como a norepinefrina) sobre outros (oxitocina, que demora um pouquinho mais para engatar a produção), mas nada que seja um proibitivo.

Voltando à realidade tal qual ela é, parece justificável que para cargos de chefia e gerência os tomadores de decisão em empresas prefiram homens e mulheres casados e em relacionamentos estáveis: eles possuem, via de regra, habilidades de comunicação íntima (sensibilidade para lidar com pessoas) mais desenvolvidas.

Relacionamentos que nos permitem passar por todas essas experiências “químicas” também costumam ser eternizados como grandes aprendizados os quais fazemos questão de não esquecer e guardar com carinho, ainda que o relacionamento a dois não tenha prosseguido: de fato, foram grandes veículos para nosso desenvolvimento pessoal.

Mas, falando de futuro e resumindo: “Apaixone-se!” (de verdade). Permita-se: quantas vezes for necessário e o quanto antes. Na pior das hipóteses, você se torna um ser humano melhor.

Um amor saudável, independentemente da sua duração, é aquele em que duas pessoas com a seguinte filosofia se juntam:

“Eu cuido de mim para você. E você cuida de si para mim.”

Quando você preocupa-se em se tornar melhor para a outra pessoa, você permite que ela admire, orgulhe e, principalmente, apaixone-se. Você dá a ela ferramentas para que ela experimente toda essa neuroquímica potencializadora do seu próprio ser e se torne, ela mesma, muito melhor. Sendo algo de duas vias, o sucesso mútuo é garantido pelo círculo virtuoso que se forma.

Em outras palavras, é dizer:

“Você cuida da sua endorfina… mas pode deixar a norepinefrina e a oxitocina comigo que eu providencio pra você!”

Se for mútuo, é um tipo de “Eu te amo” químico.

Texto original: https://sartotxt.wordpress.com/2016/09/22/o-fruto-2-0-da-ciencia-do-bem-e-do-mal/

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Equipe Abrangente
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