05 nov Nas raias da loucura
Nas raias da loucura
De vez em quando, algo acontece em nossa vida que nos leva a reavaliar nossas prioridades. Às vezes é um aniversário traumático ou um amigo passando por uma crise. Para mim, foi o enterro de um grande amigo que me deixou vulnerável, confusa e incerta quanto ao meu papel nesta vida.
Eu queria tirar todas as minhas economias do banco e ir para o Taiti. Queria pôr os pratos de plástico no asfalto e dar marcha à ré, passando sobre eles. Queria ter aulas de balé. Jogar fora todas as flores artificiais e substituí-las por uma selva de trepadeiras e folhagens. Queria tirar todos os tapetes e deixar a poeira se espalhar por onde quisesse.
Nessa mesma noite, refleti sobre a minha vida, mudei as estratégias e fiz um juramento. Eu não seria como a mulher do Titanic que, ao subir no bote salva-vidas rumo a um destino incerto, lamentou, arrependida: “Se eu soubesse que isso iria acontecer, teria pedido mousse de chocolate de sobremesa.”
Então, prepare-se, mundo! A Madame Praticidade vai começar a viver cada dia como se fosse o último.
Lembra-se daquela grande vela em formato de rosa que juntou poeira na sala de estar e acabou ficando toda mole no verão? Eu a acendi ontem.
E o vidro do carro, aquele do meu lado, que tinha uma pequena rachadura e que eu disse que substituiria quando fosse vender o carro? Bem, já mandei pôr outro no lugar.
Adivinhe quem está vindo para jantar esta noite? Eva e Jack, com quem me encontrei em dezesseis casamentos e para os quais eu dizia sempre a mesma coisa: – Precisamos nos encontrar um dia destes!
E sabe aquela lata de pescado que eu não queria abrir porque eu sou a única que come peixe e não conseguia suportar a ideia de desperdiçar o resto? Adivinhe o que aconteceu com ela!
Enquanto eu lavava as mãos com um sabonete cor-de-rosa em formato de concha, meu marido disse: – Pensei que você fosse guardar alguns desses sabonetes. Você os molhou e eles não se parecem mais com uma concha.
Olhei para baixo, para a mão cheia de espuma e pensei: “A concha só serve para aprisionar a vida, eu queria lhe dar a chance de ser uma outra coisa.”
Erma Bombeck
Do livro: Histórias para aquecer o coração das mulheres
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