Destemperos do amor

Destemperos do amor

 

Não, não é nada do que você fez ou deixou de fazer. Não é culpa sua ver sua vida transformada em um pesadelo. Você não se enganou quando se deixou encantar por tanta atenção e carinho. Não é fácil perceber o momento exato em que as agressões começaram a acontecer, dando um toque levemente amargo no meio de tanta doçura. E como as agressões vêm em pitadas, o paladar vai se acostumando aos pouquinhos. Tudo vai parecendo normal. E, se em algum momento o outro errou a dose, vinha rapidamente um carinho para compensar, trazendo de volta o saborzinho gostoso dos primeiros tempos… O coração se enche de esperança de novo, afinal, todos têm um lado bom e tudo pode mudar.
Para quem está de fora, é mais fácil perceber o gosto estranho desse tempero. Mas quando isso é o pão de cada dia, qual o problema? Tem dias melhores, dias piores, mas tudo vai se ajeitando… Enquanto isso, as pequenas violências vão ficando mais frequentes e o carinho se transforma em prato especial, daqueles que só tem quando dá, porque não se pode ter caviar na mesa todo dia, não é? Quando foi que os beijos e abraços sumiram? Não dá pra saber. Que dia foi que os apelidos carinhosos foram trocados por respostas impacientes ou ofensas? Tem vezes que a gente só descobre quando a comida queima. Quando aparecem os primeiros objetos quebrados ou a primeira mão na cara. E isso tem um gosto realmente horrível… Você jura que nunca mais vai comer aquilo. Mas, e se só tiver aquilo para comer? Você não sabe mais de onde vai tirar outra coisa pra comer, não sabe se vai aguentar passar fome, às vezes nem lembra mais qual gosto as outras comidas têm…
E agora??? AGORA, seja a hora que for – a primeira, a quinta, a enésima vez que aconteceu – é a hora certa de parar. Sempre é tempo de lutar para que seja a última vez. Não foi culpa sua o que aconteceu e você não merece um castigo eterno por não ter percebido as armadilhas a tempo. Ainda é tempo. E eu, eu tenho que cuidar de deixar meus olhos e braços abertos para te receber sem te julgar; te ajudar a se liberar desse fardo e mostrar que respeito e amor existem sim – e são pra você também!

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Lilian Garate Castagnet
lilian@abrangente.psc.br

Psicoterapeuta bilíngue Espanhol-Português. Há 22 anos, atua nas áreas clinica e hospitalar, com experiência de intervenção em situações de crise, traumas e emergências. Terapeuta do programa “Sem Medo de Falar Novos Idiomas”.

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